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Marcel Rizzo

CBF emprestou R$ 500 mil para federação ligada a substituto de Del Nero

Marcel Rizzo

04/05/2018 04h00

Coronel Nunes vai terminar mandato em abril de 2019 (Crédito: YASUYOSHI CHIBA/AFP)

A CBF fez um empréstimo de R$ 500 mil à Federação Paraense de Futebol (FPF), em 2016, ano em que Antônio Carlos Nunes comandou pela primeira vez a Confederação Brasileira de Futebol interinamente – coronel Nunes, como é conhecido, presidiu por mais de 20 anos o futebol do Pará, e se licenciou em janeiro de 2016 pouco depois de eleito vice-presidente da CBF.

Segundo o balanço financeiro da federação, o valor foi usado para quitar dívidas fiscais, com o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), referentes aos Estaduais de 2014 e 2015 e tem sido pago em parcelas mensais de R$ 22,5 mil, descontadas dos repasses feitos pela CBF. Nem a confederação, nem a federação paraense informaram a data exata do empréstimo e se ocorreu durante a presidência interina de Nunes — Marco Polo Del Nero se licenciou em 7 de janeiro de 2016, deixando no cargo seu vice mais velho (em idade), para preparar defesa de acusações de corrupção. Retornou pouco mais de três meses depois, em 11 de abril.

Não há ilegalidade no empréstimo, mas é um auxílio pouco usual da CBF com relação a seus filiados principalmente porque anualmente já repassa a eles quase R$ 1 milhão em forma de doação. O fixo de R$ 975 mil, segundo a CBF, é para o fomento do futebol país afora, mas não é o único recurso enviado. Existe também um variável que serve para o pagamento de custas com competições nacionais (Séries B, C e D e regionais) que ocorram no Estado, como gastos com arbitragem, controle de doping, entre outros.

A Federação do Pará lançou em seu balanço que, em dezembro de 2017, restava pagar à CBF R$ 188,75 mil — não está claro o modelo de empréstimo adotado, nem os juros praticados (ou se há juros). No mesmo documento, o repasse identificado da CBF no ano passado à FPF foi de R$ 975 mil, de onde as parcelas mensais são retiradas. A dívida com o INSS foi parcelada em dezembro de 2016, em 60 vezes, e ainda restava pagar R$ 776,9 mil no fim do ano passado.

A CBF, por sua vez, colocou em seu balanço de 2017 que tem a receber R$ 3,2 milhões das federações estaduais, sem especificar o valor das dívidas e quais entidades devem. O blog perguntou à confederação se foram feitos empréstimos a outras federações estaduais nos mesmos moldes, mas não obteve resposta.

O atual presidente da Federação do Pará, Adelcio Magalhães Torres, atendeu a ligação da reportagem, mas não quis falar sobre o empréstimo. Disse apenas que o balanço financeiro da entidade estava entregue, e que não falaria mais nada. Ele assumiu o mandato próprio em janeiro de 2018, depois de dois anos como interino. Coronel Nunes se manteve, de janeiro de 2016 até janeiro de 2018, como presidente licenciado da Federação Paraense.

Idade conta

Em maio de 2015 estourou o escândalo de corrupção no futebol que levou dezenas de cartolas à cadeia, entre eles José Maria Marin, ex-presidente da CBF que, na época, ocupava um cargo estratégico na confederação: era um dos cinco vices, mas o mais velho em idade, o que o colocava automaticamente como primeiro a suceder Marco Polo Del Nero em caso de ausência do presidente.

No fim de 2015, veio à tona que Del Nero também era acusado dos mesmos crimes que levaram Marin à prisão — receber propina para vender direitos comerciais de torneios a empresas de marketing esportivo. Havia um problema então: com Marin preso, o vice mais velho passava a ser Delfim Peixoto, da Federação Catarinense e opositor a Del Nero. Foi aí que o coronel Nunes entrou na pauta. Com 77 anos na época, tinha três a mais do que Peixoto, e foi eleito vice na vaga de Marin, se tornando, portanto, o sucessor direto em caso de ausência de Del Nero.

Foi o que aconteceu nos primeiros meses de 2016, ano em que ocorreu o empréstimo à Federação do Pará. Não está claro, e a CBF não informou, se esse pagamento ocorreu durante o mandato em exercício de Nunes, de janeiro a abril, ou depois quando Marco Polo Del Nero já estava de volta.

Coronel Nunes voltou a presidência interina da CBF em dezembro de 2017, quando Del Nero foi suspenso preventivamente pela Fifa, que passou a apurar se ele havia cometido alguma irregularidade. Em  27 de abril de 2018 assumiu definitivamente o cargo com o banimento de Del Nero do futebol por toda a vida, já que o Comitê de Ética da Fifa entendeu que ele recebeu dinheiro de forma irregular (o que ele nega).

Nunes, portanto, terminará o mandato atual, em abril de 2019, quando assume Rogério Caboclo. O diretor executivo foi eleito em abril, pouco antes do banimento de Del Nero, com apoio de todas as 27 federações estaduais e de quase todos os 40 clubes votantes na eleição (somente Corinthians, Atlético-PR e Flamengo não votaram em Caboclo, que era candidato único apoiado por Del Nero).

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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