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Marcel Rizzo

Opinião: Está livre usar atleta irregular na Libertadores, só faça direito

Marcel Rizzo

24/08/2018 08h58

A Conmebol admitiu em comunicado oficial que o meia Bruno Zuculini participou das sete partidas do River Plate (ARG) na Libertadores de forma irregular. Deveria ter cumprido dois jogos de suspensão por expulsão ocorrida em 2013, quando atuava pelo Racing.

Na mesma nota, a Conmebol diz que, agora, Zuculini tem que cumprir a punição, e não poderá entrar em campo na semana que vem contra o Racing, na volta das oitavas de final da Libertadores (o primeiro confronto foi 0 a 0). E que não haverá sanção ao River pelos jogos anteriores porque nenhum clube que o enfrentou reclamou sobre a má escalação do meia, e o prazo para fazer isso expira em 24 horas após o encontro — a entidade também admitiu que errou ao omitir em um comunicado ao River, após questionada pelo clube, que Zuculini estava suspenso.

Para a Conmebol, portanto, está liberado jogar de forma irregular, desde que o adversário não descubra. O Independiente, não se sabe bem como, soube e menos de 24 horas depois de empatar por 0 a 0 com o Santos na terça (21), também pelas oitavas da Libertadores, provocou a Conmebol sobre uma possível irregularidade na escalação do volante Carlos Sánchez, que teria, segundo os argentinos, um jogo de suspensão a cumprir por expulsão sofrida em 2015. Caso, portanto, semelhante ao de Zuculini.

A Conmebol repassou a questão a seu Tribunal de Disciplina que abriu investigação. Com cinco membros de cinco países diferentes (entre eles o brasileiro Antônio Carlos Meccia, novato na função como mostrou o blog mais cedo), o tribunal teoricamente é independente da diretoria da Conmebol, então pode punir o clube brasileiro se achar que houve erro na escalação, independentemente do caso Zuculini e da não sanção ao River Plate.

Irregularidade vira balcão de negócios

Há um mercado no futebol, um tanto obscuro, que é realizado por advogados ou até mesmo agentes de jogadores que visa encontrar irregularidades em escalações. Certa vez dirigente de clube brasileiro contou que, num ano, chega a receber até dez contatos de pessoas querendo avisar que um atleta X do time Y poderia ter atuado irregularmente contra seu time, e não apenas na Libertadores, mas também em torneios da CBF.

O trabalho dessas pessoas é ficar fuçando principalmente em contratos, para tentar encontrar falhas em inscrições, mas há casos também de atletas que poderiam estar suspensos e entram em campo. Normalmente esses "intermediários" nem pedem dinheiro em troca, e querem, com o serviço, ganhar a simpatia do dirigente e ter entrada no clube para outros negócios. Na maioria das vezes não dá em nada mesmo se o clube for investigar a fundo.

A Conmebol admitir que um jogador atuou por toda a Libertadores irregular, e não fazer nada, tira toda a credibilidade da competição. Se o River fosse punido no tempo correto, a tabela da competição seria outra. O Flamengo, seu rival na fase de grupos, provavelmente teria sido o primeiro da chave, e teria outro rival nas oitavas, não o Cruzeiro. Um time fora como o Independiente Santa Fé, terceiro na chave D, estaria classificado. Uma eliminação na Libertadores significa perda de dinheiro, seja de cotas ou seja de patrocínios que poderia se conseguir.

E o mais espantoso é que provavelmente o Santos será punido por ter escalado Sánchez. O Independiente fez o pedido no prazo, e o tribunal vai julgar esse caso específico. Se considerar que houve falha do clube (sim, a Conmebol diz que a responsabilidade de escalação é do participante), será decretada a derrota por 3 a 0 dos brasileiros por ter escalado Sánchez de maneira errada por uma partida.

Não vou entrar em questões de privilégios a associações dentro da Conmebol, apesar de claramente o Brasil ter pedido força na entidade com toda o desgaste que levou ao banimento do ex-presidente da CBF Marco Polo Del Nero por corrupção, inclusive em torneios organizados pela confederação da América do Sul. A questão é que a Libertadores, que já tem fama de bagunçada, chegou a um patamar de desorganização que pode levar qualquer torcedor a elaborar qualquer teoria da conspiração que vai ficar difícil explicar que é somente incompetência.

Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

Sobre o Blog

Notícias dos bastidores do esporte, mas também perfis, entrevistas e personagens com histórias a contar.