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Marcel Rizzo

Bastidores do cartão anulado de Dedé: precedente de 2014 e erro com o VAR

Marcel Rizzo

27/09/2018 11h35

Dedé no lance com Andrada que gerou sua expulsão (Crédito: Demian Alday/Getty Images)


A tarefa de julgar o pedido do Cruzeiro de anulação da expulsão de Dedé na Libertadores caiu nas mão da vice-presidente do Tribunal de Disciplina da Conmebol, a venezuelana Amarilis Belisario, que acatou a solicitação dos brasileiros em decisão monocrática, o que é permitido pelas regras do tribunal. E o blog apurou que, como base em seu despacho, Belisario usou o precedente de cartão vermelho anulado em 2014, que beneficiou o San Lorenzo (ARG), e o fato de a equipe de arbitragem ter errado mesmo vendo as imagens por meio do VAR.

O artigo 23 do Código Disciplinar da Conmebol diz que "as decisões tomadas pelo árbitro em campo são finais e não suscetíveis de revisões pelos órgãos judiciais da Conmebol". As exceções são em casos de corrupção ou de advertência dada ao jogador errado, que não eram os casos de Dedé. Cartolas da Conmebol classificavam como difícil a anulação justamente devido ao regulamento, e temiam a abertura de um precedente. Só que foi justamente um caso que já ocorreu que fez Belisario liberar Dedé para estar em campo dia 4 de outubro, no jogo de volta contra o Boca Juniors pelas quartas de final da Libertadores — em Buenos Aires os argentinos venceram por 2 a 0.

Em 2014, o San Lorenzo teve o meia Romagnolli expulso nas quartas de final contra o Cruzeiro, por, na visão do árbitro uruguaio Martin Vazquez, ter agredido ao adversário Marcelo Moreno. As imagens, porém, mostraram que houve na verdade simulação de Moreno, e, após pedido do San Lorenzo, o Tribunal de Disciplina optou por cancelar o cartão vermelho, e Romagnolli pôde enfrentar o Bolívar na semifinal.

Os advogados do Cruzeiro usaram agora esse fato no pedido de anulação e afirmaram haver semelhança nos casos. Dedé foi expulso por acertar com a cabeça o goleiro do Boca Andrada, em uma dividida de jogo. Na teoria apresentada ao tribunal, o árbitro paraguaio Eber Aquino entendeu o lance como agressão, que não houve — como o blog já mostrou, na súmula Aquino apresentou o lance como "uma jogada brusca grave, que pode causar danos físicos ao adversário". Não se falou em intenção, e Andrada de fato se machucou, quebrando o maxilar o que o deixará alguns meses fora.

Outro ponto-chave da defesa cruzeirense que foi acatado por Belisario foi o agravante de que foi usado o árbitro assistente de vídeo (VAR, na sigla em inglês), para conferir a jogada. Não só o profissional responsável pelas imagens que estava em uma cabine, o também paraguaio Mario Diaz de Vivar, como Aquino viram por várias vezes o lance sem conseguir interpretar o que estava claro, que havia sido um lance acidental.

A culpa foi dividida entre os árbitro de campo e vídeo, tanto que Vivar é citado na decisão de Belisario. Possivelmente ambos terão algum tipo de punição, que pode ser ficar fora de escalas ou passar por reciclagens.

Outra questão sobre o caso é que a decisão monocrática de Belisario foi ao encontro do que desejava o presidente da Conmebol, Alejandro Dominguez. Relatos são de que ele ficou insatisfeito com a decisão do árbitro principalmente porque houve o uso do VAR, que é a menina dos olhos da entidade que tenta se colocar no momento como em renovação e aberta à modernidade. Houve pressão do Cruzeiro e da CBF, que enviou até carta a Dominguez. Teoricamente o tribunal é independente à Conmebol, tanto que está lá até para julgar seus membros. Nesse caso, porém, foi ao encontro do que todos queriam.

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Sobre o Autor

Marcel Rizzo - Formado em jornalismo em 2000 pela PUC Campinas, passou pelas redações do Lance!, Globoesporte.com, Jornal da Tarde, Portal iG e Folha de S. Paulo, no qual editou a coluna Painel FC. Cobriu Copas do Mundo, Olimpíada e dezenas de outros eventos esportivos.

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